O menino e a carta.

Joãozinho acordara no meio da noite a barriga vazia não o deixava dormir, perto da cama que dividia com mais dois irmãos seu único e estimado brinquedo, um caderno surrado onde ele tempos atrás com orgulho havia desenhado as primeiras letras, os outros garotos o achavam estranho. Brincar com papel e palavras não era algo muito apreciado naquele lugar.

Era noite de natal e como não havia arvore, ceia e muito menos presentes, todos dormiram cedo. O menino abriu o caderno e teve a súbita idéia de escrever uma carta vira isso uma vez, papai Noel atendia aos pedidos assim como a fada dos dentes, mas só no natal.

“Papai Noel é noite de natal meus irmãos dormem , minha mãe também, todos de barriga vazia, posso ouvir daqui seus estômagos roncando. Sabe Papai Noel, havia dito a mim mesmo que não escreveria mais, porque nunca tenho como enviar a cara ao senhor, mamãe dizia que se eu deixasse na janela você viria buscar, mas sei bem que na é assim... Vou pedir meu presente como todo ano, gostaria que a minha mãe arranjasse um emprego, um emprego de verdade com um salário, , que as pessoas parassem de olhar pra ela, e pra gente como se fossemos lixo. Gostaria de poder ir a escola por mais um ano, mamãe pretende me tirar pra colocar meu irmão caçula, ela não pode comprar caderno pra nos três.

Quero papai Noel, ter direito a um futuro. Quero que os meus filhos possam andar na rua com dignidade, que possam ir a escola, e que quando estiverem deitados em suas camas possam ver um teto firme em cima delas, que eles não vivam com medo de que esse teto possa desabar.

Quero que no natal meus filhos coloquem estrelas nas arvores, uma arvore bonita como a que temos na escola, cobrimos de algodão os galhos secos, se mamãe pudesse comprar todo aquele algodão eu faria uma pra ela, mas ela diz que não liga que já tem três presentes, os mais importantes: eu, e meus irmãos.

Ela tem razão, porque apesar de tudo que nos falta, temos um ao outro pra suprir.

Boa noite papai Noel, é uma pena que você não vá receber essa carta, por outro lado talvez seja bom não teríamos biscoito ou leite para lhe deixar.